terça-feira, 10 de agosto de 2010

Além de cego, é surdo!


O sol, há algumas horas encontrara um lugar para descansar e o pequeno garoto tratava de ajeitar seu cobertor, certificando-se de que seus pés não ficariam descobertos assim que reclinasse a cabeça sobre o travesseiro. O coração do garoto sentia-se em paz. Havia realizado todas as tarefas do dia.

Seu nome era Samuel. Samuel o aluno, não o mestre. Samuel o pequeno e não o grande.Samuel que ouvia, não o que falava. Seu nome era Samuel, não era Eli.

-Samuel! -Samuel!
Seu nome, naquela noite, ecoava nos corredores dos dormitórios sarcedotais. Deus, chamava a Samuel não para despertá-lo do sono somente, mas chegara a hora de despertar seu coração. Ainda não entendendo o que estava acontecendo, o garotinho calçava seus chinelinhos de cordas de couro e rastejava-os, com a força dos pés, até o quarto de Eli. Sussurando, Samuel questionava o velho, já tomado da pior cegueira que o homem pode ter, se precisava de algo. A resposta de Eli foi "não". Afinal, quando um homem está cego em seu espírito, jamais conseguirá entender algo que Deus faça ou diga sem que o próprio Deus não tenha que insistir ou ser mais claro com ele.
Samuel retorna a seu quarto e mais uma vez, cobre os pequenos pés que o rápido passeio deixara frios.

-Samuel! - Samuel!
Com as batidas do coração aceleradas e as pupilas dilatadas, Samuel joga a coberta para o lado e apressadamente calça seus chinelinhos e dessa vez, sem se importar com o barulho e o tom de voz, pergunta a Eli se realmente estava tudo bem. O velho, de olhos cegos e coração adormecido demora para responder, talvez estivesse no melhor estágio do sono, aquele que demoramos para perceber o está acontecendo ao redor; é como um homem que não consegue entender o que Deus está realizando, nem ao menos, receber a Presença do Deus vivo porque há muito tempo adormeceu nos braços traiçoeiros do tempo e do comodismo espiritual. Eli o manda de volta a seu quarto.
O pequeno garoto retorna ao seu quarto. Sentado na cama e ainda sem tirar os chinelos dos pés, permanece olhando para o relógio por alguns minutos, colocando-se em prontidão caso Eli o chamasse novamente. Algumas voltas dos ponteiros e os olhos pesados o faz reclinar, lentamente, a cabeça sobre o travesseiro bordado com seu nome. O garoto esquecera somente de cobrir os pés. Isso não importava mais.

-Samuel! -Samuel!
os olhos do garoto se abrem lentamente, estava certo de que não seria nada de mais. Se o fosse, Eli o teria falado nas outras vezes. Os chinelos calçam os obedientes pés do garoto e suas mãos o ajudam a achar, na esucridão do corredor, a maçaneta da porta do velho cego.
Eli, finalmente entende o que se passa. Deus estava despertando o jovem coração de Samuel para ouvir atentamente suas palavras.
Não era mais com Eli que Deus falava. O velho, além de cego, estava surdo, demorou para entender o que Deus estava fazendo. O velho havia esquecido que Deus ainda falava, mesmo que seus ouvidos não estivessem bons. Deus não bateu mais na porta de Eli.

Deus não procurou por Samuel porque desejava falar com ele. Afinal, Deus também já havia falado com Eli, que por sinal, estava em um grau avançado de surdez e cegueira. Deus procurou por Samuel porque aquele garoto se levantou todas as vezes que Deus chamou pelo seu nome. Samuel ouviu e se levantou. Ouviu e novamente se levantou. Ouviu e levantou-se quantas vezes foi necessário. Samuel tinha um coração disposto a crer, a fazer, a levantar-se quantas vezes for necessário, mesmo sem entender.

Mais do que falar, Deus procura por homens e mulheres que queiram obedecer a sua voz mesmo que algumas situações não sejam compreensivas.
Creia novamente! Levante-se de novo! Disponha seu coração a começar outra vez!

Deus não deixou de falar aos homens, os homens é que deixaram de obedecer a Deus.
(1Samuel 3)